Costuma-se falar muito sobre o papel do repórter num jornal. Claro, é o cara que está na linha de frente da notícia. Sente-se muito a falta do repórter, especialmente em produtos on-line. Mas peralá, esse é o único cara da redação que está na rua? Eu também estou, oras. Só ele fala com pessoas e detecta coisas? Afe…
A questão, quando analisamos a crise do jornalismo mundial (financeira e de credibilidade), provavelmente passa pela falta de reportagem, não necessariamente de repórteres. Em jornalismo, assim como todo mundo edita, todos têm de sentir o pulso das ruas, nem que seja na esquina da própria casa, no supermercado, no trânsito.
Imagine um jornal produzido e fechado integralmente por repórteres. Ele jamais iria às bancas. O repórter tem, por definição (e com as devidas exceções), uma visão limitada e centrada em seu foco de atuação (é a tal da setorização, tão boa e, ao mesmo tempo, tão ruim).
Quem amarra os assuntos e liga os pontos é a turma do fechamento, do ar-condicionado. É o editor e seus fechadores (sejam redatores, assistentes ou o que seja). Bem diz minha colega Ana Estela que a tarefa de quem liga os pontos é tão nobre quanto. Porém relegada ao último plano, porque seu nome quase não aparece.
Dane-se meu nome.
Sem ovos não há omelete, eu sei. Mas os caras da “bunda na cadeira” podem perfeitamente apurar, aparar arestas, propor sinapses. O repórter também, claro. Mas normalmente ele está sendo cozido numa caldeira que contém todo o caldo informativo.
O trabalho de acabamento, a ourivesaria, como bem diz meu editor José Henrique Mariante, é da turma de cá.
Eu exijo mais reconhecimento ao povo do fechamento. Juan Luis Cebrián, uma das cabeças pensantes do El Pais (um diário que há décadas tenta fugir do hard news e oferecer conteúdo diferenciado), fala, como a Ana, da importância de quem burila o material a ser publicado a partir do bruto apurado pelo repórter.
Sintam falta de reportagem, não de repórteres. Todo jornalista tem a obrigação de apurar. Faz parte do metiê. Se falta apuração no produto jornalístico que você lê, a culpa é de todo mundo.
Hummm… ese texto é extensão de uma conversa via msn? rs
Exatamente, Carol!
Vc conheceu essa minha opinião em primeira mão!
bjs
Mandou muito bem, Alec! Concordo plenamente.
É muito raro que um texto que escrevo depois de uma apuração não fique 100% melhor depois de passar pelo redator. O resultado final será melhor quanto mais competente for o redator (pausa para homenagear o Mauro Albano e a Rosana Maria, os dois melhores “redatores” com quem já trabalhei) .
Por outro lado, esse “a culpa é de todo mundo” também veio a calhar. Do mesmo modo que o repórter é só quem leva os louros por uma boa reportagem – injustamente – por ter seu nome assinado no jornal, também é só sobre ele que recaem os xingamentos, mesmo que decorrentes de uma edição ruim.
Bem por aí, Cris.
Editar e apurar eu acho que é tarefa de todo mundo dentro de uma redação. Editar no sentido amplo mesmo, desde a escolha do cardápio, passando pelas opções de titulos, definição da imagem…
Enfim, fazer jornal é uma tarefa coletiva, né?
bjs
Muito bom. Dane-se se o repórter que leva o nome, isso é bobagem, o que importa é a paixão dedicada na profissão, seja qual for.
Abs
Isso aí, Darlan. Tá todo mundo no mesmo barco.
abs
Isso aí, Darlan. Tá todo mundo no mesmo barco.
abs
Profe Alec, dei aulas sobre reportagem na semana passada e seu artigo acaba de ser enviado aos meus pupilos da UnG.
Na hora de transformar as anotações no texto da grande matéria, o repórter deverá discutir com o editor da área a melhor abordagem, o ângulo da matéria, os destaques principais, ou seja, o eixo em torno do qual ele vai girar. Ele deve apurar bem, mas também formular um bom texto, nítido, coerente e interessante. “O trabalho do repórter nunca termina no ponto final da matéria que ele escreveu. O ideal é o repórter participar de todo o processo, da pauta à edição final”, diz Kotscho (2007). E, é claro, os ‘caras’ do ar condicionado têm sua importante função nesse processo jornalístico. O que seria de nós, leitores, sem a turma que liga os pontos e faz com que o jornal esteja diariamente nas bancas!?
Parabéns pela iniciativa de levantar a bandeira e exigir mais reconhecimento ao povo do fechamento!
Um beijo da sua amiga e fã.
Profe Cacá, o que é isso? Eu é que sou seu fã!!!
bjs