Vindas diretamente da Espanha, duas recentes menções ao jornalismo cidadão me chamaram a atenção.
A primeira é do designer Javier Errea, que está por trás do redesenho de jornais premiados e verdadeiramente novidadeiros neste museu de grandes novidades que é o jornalismo impresso.
“O bom jornalismo, sinto muito dizê-lo, nunca será feito por leitores ou usuários, mas por bons jornalistas. Não que a informação pertença aos jornalistas, eu não sou corporativista, acredite. Mas desconfio muito da moda. E vivemos uma moda de jornalismo participativo”, afirmou.
Do outro lado do balcão, o amador Eduardo Arcos rejeita o rótulo de “jornalista cidadão” e diz que ele não existe _Tiago Dória já falou sobre este texto, mas atraído pelo canto da sereia. Arcos cobra um reconhecimento do mainstream (leia-se: crédito) e tenta se posicionar no palco. Ele pede holofote, o que é péssimo (até porque, no geral, esse crédito sempre existiu).
Diz que os amadores são usados pela grande mídia e lembra que, na era da publicação pessoal, qualquer um pode publicar fotos, textos ou vídeos (ou o que seja) na internet, dispensando a presença de uma corporação.
Daí lembrei que tenho uma restrição ao consenso de que jornalismo participativo (ou colaborativo) e cidadão são sinônimos. Pra mim, não são. A participação me supõe uma mediação profissional. Daí participação. Participar do processo de contextualização de uma notícia. O jornalismo cidadão entendo como o ambiente em que pessoas colocam no ar, sem edição profissional, seus conteúdos noticiosos.
Preocupam-me, também, as duas visões. A do insider, caso de Errea, que vê moda numa coisa inexorável que a tecnologia deu a todo mundo. Ele, moderno no design de notícias, é um dinossauro quando o assunto é conversação.
E a do blogger espanhol ressentido, que se sente usado pela grande mídia (parar de reportar talvez seja a solução?).
Os dois estão bem errados.
Mas legal que tem mais gente falando sobre essa encruzilhada (texto caudoloso em espanhol, mas bacana).
Concordo com o que você diz sobre o jornalismo participativo compreendendo que o cidadão consegue algum conteúdo noticioso, repassa para um veículo que pode verificar a vericidade dos fatos , e publica-los se existir relevancia. Jornalismo sem profissionais não é jornalismo, não entendo como ele fez essa comparação de modismo, sendo que usuário escreve o que quiser ,mas acredito que ninguém sai por aí dizendo, “é verdade porque eu li num blog”.
Darlan,
Mas a questão é: e as pessoas saem por aí dizendo “é verdade porque eu li no jornal”?
abs
O Arcos não pede holofote, pede transparência. Coisa que a mídia tradicional tem muito a aprender com os amadores.
Daniel,
Eu acho que em boa medida o crédito tem sido dado. Eu vejo problemas (e já barrei por causa disso) citações a anônimos, como são vários casos de users no You Tube, por exemplo. “Imagens gravadas pelo usuário crazyclown…” certamente é uma citação que jamais passará por minha cabeça fazer.
abs
Hehe! Quanto ao crazyclown eu concordo, mas convenhamos que online isso se resolve com um link. E a maioria dos veículos tradicionais, aqui no Brasil, ainda não aprenderam a linkar.
Pura verdade, Daniel.
É o monstro da linkagem externa sobre o qual falamos outro dia.
abs
Não, mas se os profissionais estão preocupados com esta legalidade sem limites da internet , é pq de alguma forma os usuários estão incomodando.
Mais uma verdade, Darlan.
Incomoda ao profissional imaginar se acotovelar com o reles leitor. Ainda há o pedestal e ele atrapalha o desenvolvimento da profissão.
Agora o bacana é justamente sentir o que o pensa e quer o usuário, e envolver todos num processo de busca de pautas bacanas e enfoques que sejam de interesse comum.
Chegaremos lá, creio nisso.
abs
Pô, mas eu também sou anônimo! Aí fica difícil. Ou teu nome é realmente ‘Alecduarte’?
De qualquer maneira, a quem interessar possa, meu nome real é Carlos Augusto
Hahahahah, eu sou o alecduarte sim!
hahaah
Alec Duarte é fake?? rs
O jornalismo participativo é uma realidade que começou no rádio, cresceu no online e já chegou à tv.
Faço parte da corrente que defende a mediação de jornalistas antes de publicar conteúdo de leitor.
Como vc sabe, por alguns meses cuidei do vc repórter, no Terra. É bem complicado lidar com conteúdo de leitor. É preciso estar muito atento a veracidade da informação, da foto…
Na época das eleições, houve casos de “leitores” que tentaram usar o canal para atingir políticos adversários, através de “notícias-denúncias”.
Também aconteceu de recebermos conteúdos que não eram do leitor que enviou. E a partir do momento que o veículo utiliza o material, ele é responsável por aquilo e pode responder judicialmente por veicular conteúdo não-autorizado.
É um meio complicado, e nós ainda não temos a receita de como proceder com o jornalismo participativo.
Fiz uma matéria sobre isso ano passado. Segundo texto desse link. Tem opiniões interessantes sobre o jornalismo cidadão:
http://veneno-antimonotonia.blogspot.com/2008/03/jornalismo-em-pauta.html
Eu tb defendo a coexistência pro-am. Pra mim, isso é jornalismo participativo. São as pessoas participando, no caso, de apuração/relato/difusão de notícias por meio da mídia formal, como apelidei o mainstream.
Eu não concebo um veículo jornalístico sem mediação profissional.
Difícil de acreditar. Mas tudo bem, se você diz, acredito.
Alec,
também concordo com a sua diferenciação entre jornalismo participativo e cidadão.
Mas o que tem me incomodado é que tenho visto esse canais de JP dos veículos apenas como uma forma criar valor para a participação e ampliar as formas de contribuição…porque jornalismo mesmo quem faz são os jornalistas da redação que recebem o conteúdo, editam e etc…
Será que não é o termo “jornalismo participativo” que teria de ser revisto? Já que – falando de uma forma meio bruta – está mais para participação do que para jornalismo?
OBS: se a Carol Rocha passar por aí de novo: lembro de vc lá no Terra!!! Um grande abraço! (sou a jaeger, hehe)
Ju,
Há bastante tempo eu digo que a colaboração é um doce que os portais dão ao usuário. E um doce estragado: a participação dos caras fica lá, segregada, descuidada e considerada um estorvo.
Em boa medida, ela é péssima mesmo.
Talvez nem sequer chegue a jornalismo, como vc diz. Na média, não chega. Um fenômeno a se analisar.
bjs
Oi Ju!!!!!
E aí? Continua por lá?
beijo!!