Minha temporada de bancas de TCC encerrou-se ontem, na Fiam (instituição pela qual, aliás, me formei em Jornalismo em 1992). Lá pelas tantas, no meio do debate, o jornalista e professor Edson Rossi pôs o dedo na ferida. “A universidade precisa perder a paúra da entrevista”.
Era um recado ao aluno que apresentava seu trabalho, pobre no quesito, mas também a todos os estudantes e faculdades que tentam preparar gente para esta profissão. As gerações que estão chegando, em parte por causa da benevolência da universidade, acham que a pesquisa substitui a conversa com pessoas.
Não, não substitui.
A pesquisa é um importante trabalho de produção antes da fase de conversas com entrevistados que podem elucidar um assunto, contar versões, analisar fatos, contextualizar notícias. E também depois, como complemento e elucidação do tema tratado. Ponto.
Agora tem um outro detalhe nessa história, que é o reverso da moeda: a supervalorização da entrevista, que desemboca no que conhecemos como “jornalismo declaratório”.
O fato de termos a obrigação de conversar com a maior quantidade possível de pessoas não significa que estas declarações precisem ser publicadas. A entrevista é, antes de tudo, um processo da apuração, uma forma de ficar por dentro das coisas, saber o que se passa.
As fontes nos dão informação, não frases. Em alguns casos, o uso de aspas numa reportagem se transforma apenas na válvula de escape para um texto pobre e vazio. Repare como isso é comum, por exemplo, no caderno de esportes. Frases e mais frases, uma pior do que a outra. Do tipo “queremos ganhar” ou “vamos conquistar os três pontos”. Absurdo.
Eu adoro matérias sem declarações. Significa que o texto foi burilado, e as aspas, compiladas, condensadas e transformadas em algo palatável.
Pena que ainda não encontramos o meio termo. Nas faculdades, fecham-se os olhos para a ausência de fontes por trás dos trabalhos dos alunos. Nos jornais, idem para o “aspismo juramentado”.
Mas quem disse que é fácil fazer jornalismo?
Muito bem lembrado: a paúra da entrevista não pode ser lida como a apologia da logorréia (essa foi f*da), ou as aspas de 8 linhas que dizem nada — ou, pior, dizem o que acabamos de ler. Valeu, forte abraço
Concordo com tudo e confesso que a paúra realmente existe. Mas, no meu caso, além do receio, o que dificultou a realização das entrevistas foi a falta de tempo, organização e talvez, de experiência. Porque, mesmo com o medo de falar besteira e não conseguir boas aspas, não há nada melhor do que ter nas mãos uma entrevista feita por nós mesmos. E se for boa, então, nem se fala.
De qualquer forma, acho que ainda tenho um bom tempo pra perder a paúra das entrevistas, haha e, quem sabe, encontrar um meio termo entre o excesso de aspas e a ausência delas.
Beijão
Nossa! bem lembrado! Incrível como muitos estudantes, por vezes estimulados por professores, fazem entrevista para virar teoria, e teoria para ser diluída em conversas vazias.
Digo isso, pois percebo que a contemporaneidade permite o entrelaçamento de tantos gêneros e o jornalismo ainda fica na pobreza das frases salpicadas.
Se uma entrevista tem status técnico e de gênero, porque não pode mesclar-se com outros elementos, como por exemplo a densidade de uma reflexão em torno do que se fala entre aspas!?
Ora, se as proposições são contextualizadas e bem organizadas, valeria a pena enxergar um pensamento em detalhes e não meras falas!
A entrevista é muito mais que isso e não se estudou à altura!
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William,
vejo a entrevista como parte integrante da apuração. E, sim, “a densidade de uma reflexão em torno do que se fala entre aspas” também.
abs