Jornalismo não pode ser literatura

O texto jornalístico, quem diria, foi apontado como gênero literário por professores e especialistas que, desde ontem, participam do 1º Congresso Internacional de Jornalismo de Málaga, na Espanha. Nada mais equivocado.

Primeiro que a própria natureza do trabalho, em que textos precisam ser cortados e/ou condensados às pressas para se adequar a espaços físicos (leia-se: centimetragem de matérias) muitas vezes impróprios impede qualquer tipo de paralelo com a literatura _terreno onde, todo o oposto, o autor passeia, descreve e divaga o quanto quiser.

É perigosíssima comparação deste tipo, pois leva muito jornalista a se pressupor um artista, passo este decisivo para abraçar o nariz de cera de vez e jogar a objetividade e agilidade do texto no lixo.

Jornalismo e literatura não podem se misturar. Isso não significa que queremos textos ruins em nossos jornais. Apenas defendo uma estrutura de narrativa que privilegie o tempo exíguo do leitor, conte o milagre e o nome do santo logo de cara e acabe com todo suspense e dúvidas em segundos.

O contrário do que é desejável na literatura.

10 Respostas para “Jornalismo não pode ser literatura

  1. será mesmo que na literatura, o autor pode ‘passear, descrever e divagar o quanto quiser’? tenho minhas dúvidas.

  2. É curioso. Você tem razão, é claro, quanto à preocupação com objetividade e agilidade, e principalmente com o tempo do leitor. No entanto, acho que existe, sim, uma demanda por um jornalismo literário, solto e imaginativo (no sentido de brincar com o texto, não de inventar a notícia). Eu sinto falta (como leitor) de reportagens mais saborosas do ponto de vista do texto e volta e meia encontro algumas que usam a linguagem literária e que me agradam muito.

  3. Preto-no-branco demais. Há espaço, sim, para um texto literário no jornalismo. A palavra chave é “espaço”. Não quer dizer que qualquer cu-sujo seja capaz de fazê-lo, nem que é possível colocar arte no noticiário ultraquente da internê, por exemplo.

  4. Godoy e Victor,

    É que quando digo “jornalismo”, verdadeiramente estou pensando no texto noticioso. E não há mais espaço (estamos falando de jornal em papel aqui) para muito mais do que o hard news.

    A literatura fica para os cadernos de fim de semana.

    abs

  5. Pelo contrário, eu diria. O papel tem espaço apenas para o soft news. O hard news que fique com os meios eletrônicos, ou o jornalão do futuro, aquele atualizável via WiMax. O que a Folha tem e que o G1 não tem são os caras que contam bem a história. Na minha opinião, a diferenciação que o papel precisa procurar é justamente essa. Jogar fora o bom texto, aquele que bebe das fontes literárias? Suicídio, creio.

    Mas, óbvio, vale a discussão.

    Abs, truta.

  6. Alec, tenho pensando nisso ultimamente. Qual o futuro do impresso? Este natimorto frente ao ciberespaço… Acredito que textos mais trabalhados, literários mesmo, ou analíticos, possam ser o futuro desta mídia.

  7. Victor e Godoy,

    Verdade, pensando em futuro, deverá ser por aí mesmo. Eu próprio defendo que o “aconteceu ontem” deve ser um box, uma arte, enfim, um apêndice ao abre analítico ou investigativo.

    Mas mesmo eles, diante da premência de tempo, precisam dizer rapidamente para o que vieram.

    abs

  8. Então,para você, não é possível uma literatura com limitação de caracteres?

  9. Juliana,

    eu defendo uma literatura longe do jornalismo, seja com quantos caracteres forem. Recapitulando: o fato de não ser um texto literário não transforma, imediatamente, o jornalismo numa lata de lixo da palavra. O texto literário tem uma preocupação que, avalio, não combina com a do texto jornalístico.

    abs

  10. Pingback: A poesia a serviço do jornalismo (!?) « Webmanario

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